Olá Filipe
O meu primeiro também foi Braga…. com a empresa acabadinha de fundar… mas este é o primeiro a que assisto por dentro, ou melhor, fora do stand e dentro das salas.
Tanta verdade nestas palavras. Orgulho-me de ser uma das pessoas que em Portugal se preocupa com determinados temas. Para um desses temas fui cheio e esperança aos Açores onde haveria alguém que lança grandes sombras na nossa praça a debruçar-se sobre ele… desilusão completa. Matéria mal investigada, focando trabalhos terciários sobre o tema, pegando na discussão pelos pontos que não vale a pena discutir, propondo-se investigar o que já não precisa de investigação. Ainda tive esperança que o PDF estivesse melhor, mas não só tinha erros como lhe faltava a bibliografia (alguém perdeu uma página?)
Não é ausência de debate devido ao excesso de “pseudo–cientificidade”? Será que uma prelecção do Dr. Armando Malheiro é inteligível, mesmo quando a audiência é de bibliotecários e arquivistas, sem um Houaiss à mão de semear? Se como afirmas muitas das apresentações são resultados de teses, não foram estas feitas no sentido de fechar um assunto… antevendo todas as contraditas que o júri possa apresentar depois de estudar aquilo com tempo… que esperança temos nós, pobres diabos chamados audiência, com três minutos para pensar depois de ouvir tudo aquilo de enfiada… ao fim dos quais se dá por encerrada a sessão? Pergunto-me se como a IFLA faz, a BAD teria coragem de divulgar as actas com dois meses de antecedência… indo as pessoas muitas vezes às sessões para perguntar coisas aos palestrantes (e perguntas preparadas e estudadas)…
a) Concordo a 100%
b) É estranho que isto aconteça pois a velocidade de leitura na língua portuguesa é conhecida (apesar de já não me lembrar qual o valor de palavras por minuto). Tive uma professora de formação que conseguia preparar discursos de X palavras sabendo de antemão que o diria em Y minutos e Z segundos mais ou menos 5 segundos.
c) Demasiado Magister Dixit na nossa história? Há aqui algo genético, um meme indestrutível, desde os tempos da Inquisição?
O empréstimo pago foi discutido? Cadê o ministro que vai ter de assinar isso (ou um secretário de estado) que o decide que eu não o vi? Ou, como naquela imortal imagem de Heinlein, “somos cordeiros a passar resoluções proibindo os leões de serem carnívoros”?
“Reuniões Magnas”… deviam, não deviam… nunca me esqueço de estar uma sala de 600 pessoas cheia (durante a hora de almoço!!!) para discutir o problema das Caricaturas de Maomé e que posição a IFLA devia tomar sobre o assunto, se é que alguma… com filas de 8 pessoas para cada microfone quando a sessão teve de ser encerrada…
Quanto ao esmorecer de entusiasmo sei que ele existe. Faço parte da direcção de outra associação do sector e sinto isso todos os dias. Mas não é de hoje. Lembro-me de em 1999, quase no dealbar da internet ter criado na Lusodoc uma Lista de Discussão, intitulada Hipatia, que chegou a ter 169 membros e onde apenas foram trocadas 8 mensagens entre 23 de Julho de 1999 e 25 de Fevereiro de 2000 (mas relendo os nomes dos subscritores encontro caras conhecidas), tendo sido o servidor reformado por cansaço de inutilização em 29 de Outubro de 2004. Ou o Fórum Linha Aberta que criei em anexo ao site da Incite onde ninguém se inscreveu, excepto dois colegas meus a pedido, só para ver se os algoritmos funcionavam… Alguém falou da candidatura malograda à IFLA 2009 que perdemos com a Itália? Quanto a “servir de motor para criar a rede cooperativa” tenho umas idéias interessantes que ando a trabalhar…
1. Um congresso com menos comunicações (= maior selectividade e menos pseudo–cientificidade);
2. Um congresso com mais painéis (= para agregar num mesmo espaço profissionais com os mesmos interesses e com vontade de tomar posições e desenvolver acções comuns);
Se o que aconteceu com o painel de blogues é amostra, é deveras um formato que resulta… será que é por as pessoas se reunirem para falar umas com as outras, ao invés de para se ouvir umas às outras?
3. Um congresso com mais tempo para debate (= maior equilíbrio entre o tempo para as apresentações e o tempo para os debates);
De alguma maneira a experiência que tenho dos EUA parece ser nesse sentido. Para uma sessão de uma hora, uma apresentação de 30 minutos, de uma única pessoa, que se sente tremendamente mal se a assistência não responde… sente-se mesmo responsável pelo fracasso da discussão… mas será que sete pessoas para uma sessão de 1:30 será apenas para distribuir as culpas?
4. Um congresso com maior intervenção pública (= fazendo chegar à opinião pública, através da comunicação social, a dimensão política do nosso trabalho).
SIM SIM SIM. A BAD não tem um secretário de imprensa? Alguma vez a BAD fez cursos de relações com a comunicação social? Ou é como os partidos que contrata uma empresa quando tem necesside de ser badalado?
Pelo que vi das comunicações, pelo que tenho seguido na blogosfera, o desafio teve os melhores resultados imagináveis, quase me faz perguntar se posso ir para aí fazer o estágio…
Filipe Leal
Rede de Bibliotecas Municipais de Oeiras
Tenho que ir aí um dia destes.
Empréstimo pago não foi quase referido, nem mesmo nas comunicações de colegas da leitura pública, que preferiram abordar experiências de sucesso e outras temáticas. Havia mais de 80 bibliotecários de bibliotecas municipais e outras de leitura pública na assistência, embora tal peso não se reflectisse na quantidade de comunicações deste sector apresentadas. Lendo atentamente e concordando com muito do que dizem, permitam-me uma outra proposta: para termos espaços de debate mais úteis e produtivos, provavelmente tem de haver formatos distintos para a divulgação de trabalhos de investigação (ou de actividades consideradas relevantes pelas instituições)e para a participação na discussão de temas e perguntas verdadeiramente pertinentes e inquietantes. Neste último caso, a atitude a promover nao é realmente a de esperar ouvir respostas, mas a de se dispôe a contribuir para as questões e as reflexões. Correndo o risco, inclusivé, de não acertar.
Já agora, e como sempre participei nestes congressos a custas próprias,valorizo iniciativas que a BAD possa ter fora dos Congressos, como a da criação de sistemas de bolsas ou créditos bonificados para os associados, para permitir alguma liberdade individual de cada profissional na sua actuação, sem depender de factores institucionais (quem o autoriza/impede de participar, ou obriga a abordar este ou aquele tema? Nem todos são Directores dos seus Serviços, ou Empresas, e bem se sentiu isso na forma como a meio do Congresso cada um reagia a um dos temas do “congresso oculto” – o PRACE – rivalizando com outros honrosos clandestinos, como o software livre, a iliteracia, o emprego precário ou sem direitos,o “gap” geracional. Parabéns pelo blog e pela persisitência.